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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Economia solidária

Pensar economia solidária no País é abrir espaço para o debate entre valor de uso e valor de troca. O que vem a ser isso? Valor de uso é tudo aquilo que satisfaz as necessidades de sobrevivência da população, enquanto que valor de troca está ligado ao consumo de mercadorias dentro da lógica capitalista, ou seja, a preocupação não recai sobre a satisfação das necessidades físicas e biológicas das pessoas e, sim, sobre as possibilidades de lucro que o mercado oferece às empresas.

Não entendi o que você quis dizer sobre lógica capitalista. O modo de produção capitalista se baseia no processo de acumulação de capital, na propriedade privada dos meios de produção, na defesa do livre mercado, no afastamento do Estado do mercado, na defesa da atividade lucrativa, no individualismo, dentre outras.

Mas há como praticar economia solidária dentro desta lógica capitalista? O ideal era quebrar a lógica do capital, mas como isso se coloca como utopia na atualidade, dá para se caminhar ao lado. Como posso enxergar ações neste sentido na economia brasileira? O governo federal criou a Secretaria Nacional de Economia Solidária e esta desenhou alguns programas e ações interessantes e perfeitamente aplicáveis em uma economia de mercado. Você pode nos dar alguns exemplos destas ações? Posso, vamos lá, existe a cadeia produtiva do algodão agroecológico no Ceará, a cadeia produtiva do mel no Nordeste do País, a cadeia da coleta de materiais recicláveis em Belo Horizonte, dentre outras.

O desenvolvimento de cadeias produtivas como estas tem por finalidade resgatar pessoas que se encontram à margem da sociedade face ao processo excludente característico do modo de produção capitalista. Para tanto, vamos analisar algumas conquistas. A cadeia produtiva do algodão agroecológico citado acima oferece oportunidade de emprego e renda no sistema de associações e cooperativas a 700 trabalhadores e suas famílias de 11 Estados brasileiros e produz 1,5 tonelada de algodão e 12 mil peças de vestuário por ano.

A cadeia produtiva do mel presente na região Nordeste do País gera empregos e renda para 2.729 pessoas, com produção de 400 toneladas/ano, e finalmente a cadeia da coleta de recicláveis de Belo Horizonte, em Minas Gerais, conta com 550 catadores, lhes oportunizando emprego e renda.

Pelos exemplos que foram dados, esta tal de economia solidária tem a ver apenas com pessoas sem renda ou de baixa renda? Exatamente estas pessoas são as primeiras vítimas do modo seletivo e excludente que o processo de produção capitalista promove. A busca pelas empresas de resultados econômicos e financeiros no mercado capitalista impõe condições para que trabalhadores adentrem ao mercado e nele se mantenham.

As pessoas que não têm acesso aos meios de produção por falta de recursos ou qualificação profissional acabam engrossando as fileiras de marginalizados. É pensando justamente na forma de incluí-los de volta à sociedade que nasceu a economia solidária. A proposta nasceu da distribuição de 60 mil bolsas aos participantes do Fórum Mundial Social em 2005, com o apoio do Ministério do Trabalho e Emprego. O material distribuído foi confeccionado em cooperativas e associações de pequenos trabalhadores na região sul do país.

O interessante é que no processo de produção estimulado pelo programa os trabalhadores não só produzem e comercializam entre si e no mercado, mas também recebem ensinamentos da importância de manterem juntos em associações e cooperativas para poderem sobreviver e criar seus filhos em uma economia de mercado.

Integram o programa também os pequenos produtores rurais que passaram a se dedicar a produção e comercialização de produtos orgânicos. O mercado para estes produtos se consolida a cada dia com boas perspectivas inclusive para exportação, já que os preços em função do não uso de agrotóxicos são diferenciados daqueles produzidos de modo convencional.

O programa também trabalha em favor da preservação do meio ambiente com isso contribui para o desenvolvimento local sustentável gerando renda e emprego sem nenhum tipo de agressão ambiental.

Na verdade o que se busca com o programa é incluir as famílias que atualmente dependem da bolsa família algo em torno de 33 milhões de pessoas e dar a elas a condição de incluir socialmente via produção reduzindo assim os níveis de pobreza no país.

O programa mostra que o Estado deve ter o seu papel reservado no mercado e que ao promover políticas públicas voltadas para este segmento também movimenta a economia favorecendo principalmente o desenvolvimento local, já que as pessoas incluídas tendem a usar suas rendas nas localidades onde vivem.

Fica aí mais uma opção para os economistas e contadores colocarem em prática o que aprenderam nos bancos das universidades e faculdades deste país.

Disponivel em: http://www.dm.com.br/materias/show/t/economia_solidaria

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