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quinta-feira, 18 de junho de 2009

PIB: balanço geral

Os últimos resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o desempenho do Produto Interno Bruto no comparativo do 1º trimestre de 2009 com o mesmo período do ano anterior mostram os efeitos nefastos de aplicação de uma política monetária restritiva em tempos de crise sobre a atividade econômica.

Pensar em resultados melhores seria no mínimo desconhecer os fundamentos que movem a economia. Não precisa ser economista para saber que juros altos no mercado interno não combinam com o aumento da produção neste mesmo mercado.

Outra constatação óbvia é que, quando não ocorrem investimentos em máquinas e equipamentos, dificilmente a economia pode experimentar processo de crescimento, já que investir em formação bruta de capital fixo faz com as empresas apresentem diferenciais de tecnologia em seus processos produtivos, levando-as a produzir mais com menores custos operacionais, dando aos seus produtos maior qualidade e competitividade proporcionando-lhes melhores resultados. Quando não realizam investimentos, dificilmente conseguem ampliar sua fatia de participação nos mercados.

O que estamos assistindo com relação ao desempenho do setor de formação bruta de capital fixo ou de máquinas e equipamentos é que este vem apresentando queda. No primeiro trimestre de 2008, os investimentos no setor foram da ordem de 18,4%, do PIB, no mesmo período de 2009. Estes alcançaram apenas 16,6% do PIB. Nos primeiros três meses deste ano, a queda no setor foi de 12,6%, menor percentual desde 1996. Para que uma economia cresça, este segmento da atividade industrial tem que estar aquecido, caso contrário, os resultados do produto agregado são baixos como os divulgados.

Ainda no comparativo do 1º trimestre de 2009, com igual período do ano anterior, percebe-se que a atividade industrial caiu 3,1%, a agropecuária, 1,5%. O lado bom foi que, com a redução do IPI e em razão da política permanente adotada pelos estados de concessão de incentivos e benefícios fiscais, os impostos sobre o produto agregado caíram 3,3%, compensando em parte os estragos causados na economia pela manutenção de taxas de juros muito superiores à média cobrada nos países que formam a economia mundial.

O Produto Interno Bruto é o resultado da soma do consumo das famílias, do governo, com os investimentos em máquinas e equipamentos, mais as exportações deduzidas das exportações. Como ficou esta equação no período analisado? O consumo das famílias cresceu 0,7%, o consumo do governo cresceu 0,6%, máquinas e equipamentos apresentaram queda de 12,6%, as exportações de bens e ou serviços caíram 16% e as exportações tiveram queda de 16,8%. Dificilmente poderíamos ter alcançado melhores resultados como de fato alcançamos neste comparativo, pois o cenário econômico encontrava-se totalmente adverso para o crescimento.

Se a autoridade monetária não concordasse com esta situação, não teria surpreendido grande parte do mercado e reduzido a taxa Selic em reunião de ontem do Comitê de Política Monetária – Copom –, em 1%, passando a taxa que remunera os títulos públicos de 10,25% para 9,25%.

O reflexo desta medida vai melhorar a vida do consumidor? No curto prazo não, porque os juros do crediário ainda continuam altos. Por que isto ainda ocorre? Devido ao spread bancário. O que é isto? É a diferença entre o custo de capitação dos recursos feito pelos bancos e seu empréstimo aos investidores, ou mesmo às pessoas físicas. O que faz esta diferença ser tão alta? Os impostos sobre operações financeiras cobrados pelo governo, a taxa de lucros dos bancos, fincando muito acima da inflação, em torno de 30%, por operação, combinada ainda com a assimetria de informações, ou seja, a falta de conhecimento por parte das instituições financeiras da verdadeira capacidade dos prováveis devedores de quitarem suas obrigações para com eles.

Em que a crise auxilia para que a taxa de juros aos consumidores e investidores fiquem muito acima da capacidade que a economia suporta? Como a crise é financeira, influencia bastante, já que com a desconfiança que paira no setor, o crédito fica curto, tornando o seu acesso mais difícil e mais caro. Mais a crise não ocorre com maior intensidade nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. Por que, então, está afetando tanto o Brasil? Porque vivemos em uma economia globalizada, o que acontece lá fora tem reflexo no mercado interno.

Sendo assim, é por isso que temos que manter nossa taxa Selic mais próxima o possível da média praticada lá fora? Se fizermos o contrário, estaremos dando um passo atrás no que tange a vencermos os efeitos da crise, ou seja, a queda continua na atividade econômica, nos colocando na chamada recessão técnica.

Tudo bem! Você reduz os juros, aumenta o consumo e, com isso, os preços aumentam. Isto não vai gerar inflação? A princípio sim. Como resolver esta questão? Simples: utilizando as importações como ocorreu na primeira fase do Plano Real, só que agora não perderíamos reservas internacionais como naquela época. Por que não? Porque a taxa de câmbio praticada no País é a flutuante e não a fixa, como anteriormente. Que diferença isto faz? Quando a taxa de câmbio é fixa, o Banco Central reduz a especulação da taxa de câmbio colocando moeda estrangeira no mercado extraído das reservas internacionais, quando é flutuante não há esta interferência da autoridade monetária fazendo com que o próprio mercado se ajuste.

Neste caso, a desvalorização inicial da moeda nacional frente à estrangeira não colocaria em cheque o instrumento de combate a inflação? Se não estivéssemos em crise, sim. Como estamos em crise, as exportações não seriam aquecidas, pois a demanda global está em baixa, com isso, teríamos fôlego para aumentarmos a renda interna sem no entanto comprometer o processo de estabilização.

Existem outros caminhos para combater a inflação e melhorar o desempenho do produto agregado? Lógico, podemos ser conservadores ou desenvolvimentistas. Qual a diferença entre eles? Uma política conservadora cria problemas para o crescimento da economia e ainda aprofunda o desemprego, como estamos presenciando atualmente, enquanto a desenvolvimentista gera oportunidade de sairmos da crise com inclusão social pela produção sem quebrar a lógica da estabilização.

O quadro atual, reflexo do conservadorismo da autoridade monetária, é o seguinte: indústria de transformação, -12,6%; construção civil, -9,8%; gás, água, esgoto e limpeza, - 1,1%; minerais ferrosos, -38,1%; petróleo e gás natural, alta de 6,5%.

No segmento de serviços há o seguinte quadro: alta de 7,0% em outros serviços; crescimento de 5,8% em intermediação financeira; aumento de 5,4% no segmento de informação; queda de -6,0% no comércio varejista; -5,6% em transporte e armazenamento. Fica para reflexão.

Disponível em: http://www.dm.com.br/materias/show/t/pib_balano_geral

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