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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um balanço sobre a crise financeira internacional

A turbulência dos últimos três meses acabou por abalar toda a economia mundial. Cada país guardando as suas especificidades passou por ataques especulativos contra suas moedas, ora as levando a uma valorização e ora, a uma desvalorização frente ao dólar.

Os Bancos Centrais de países ricos e pobres fizeram intervenções nos mercados de câmbio, para conter a onda crescente de especulações. Grandes partes destes países lançaram mão de suas reservas internacionais, outros preferiram atuar principalmente no mercado futuro, via o mecanismo conhecido como swap, que nada mais é do que a troca de indicadores para fins de proteção dos contratos já negociados.

A princípio os problemas mais graves ocorreram nos mercados financeiros, havendo quebras em instituições financeiras consideradas saudáveis até a eclosão da crise. Tudo isto motivado pela inadimplência advinda do mercado imobiliário americano, centrado em níveis de especulação acima dos padrões admitidos.

Para segurar novas quebras tanto no mercado americano quanto no dos demais continentes grandes somas de dólares foram colocados nos mercados em curto espaço de tempo. As cifras alcançaram valores considerados astronômicos para muitos, mais reais, para os que lidam com negócios neste mercado. Para se ter uma idéia algo em torno de US$ 1,3 trilhão foi consumido em um prazo não inferior a 30 dias.

Em um segundo momento atingiu o setor produtivo mundial trazendo reflexos bastante negativos para o setor automobilístico, montadoras de grande porte como a GM, fecharam seus balanços com enormes prejuízos. O governo americano liberou para o setor US$ 17 bilhões.

No outro lado do mundo a Toyota também apresentou desequilíbrio obtendo um prejuízo da ordem de US$ 1,7 bilhão, o maior nos últimos 70 anos. Na verdade todas as montadoras do setor apresentaram problemas de caixa, fruto da queda das vendas de veículos e também dos aumentos dos encargos financeiros.

O segmento de carros novos se viu abalado nos mercados em razão da falta de crédito e da alta dos juros dos carros usados. Normalmente os juros praticados no mercado de veículos usados são menores do que o de novos. O problema foi que com a queda das vendas as concessionárias para desovar os estoques praticamente zeraram os juros, com isso desestimulou o financiamento de carros usados.

O aumento do estoque de usados derrubou seus preços, o que causou dois problemas: o primeiro foi que os detentores destes veículos deixaram de negociá-los no mercado por outro lado as concessionárias deixaram de recebê-los como entrada para a aquisição de veículos novos com isso o mercado praticamente parou.

As quedas nas vendas nos dois segmentos abalaram as montadoras em todos os mercados, com isso a idéia de um estado mínimo, vendida pela filosofia neoliberal foi momentaneamente abonada. As economias capitalistas de maneira geral aclamaram a volta do receituário Keynesiano, que prega a intervenção dos entes estatais nas economias agindo sobre a renda no sentido de conter possíveis distorções que as economias de mercado por si só, não conseguem resolver.
No Brasil não foi diferente o Governo Federal teve que intervir, no caso específico reduzindo o IPI, facilitando com isso que as montadoras repassassem ás concessionárias descontos, sobretudo na linha 2008, as permitindo reduzir os preços dos veículos cujos estoques eram maiores.

Os resultados ainda não foram os esperados mais de qualquer forma acalmou os ânimos assegurando ao segmento melhores resultados.

Com a crise as financeiras ficaram mais exigentes tendo em vista as incertezas presentes nos mercados. A falta de conhecimento sobre os movimentos financeiros dos clientes tendo em vista as chamadas assimetrias de informações acabam por limitar a concessão de créditos inviabilizando alguns negócios.

O governo federal não só socorreu as montadoras mais também os investidores dos mercados financeiros e os exportadores garantindo um volume considerado de recursos nos mercados.

No mercado de câmbio cerca de US$ 50 bilhões foram disponibilizados para conter a ânsia dos especuladores de plantão e também fazer face aos exportadores e importadores.

Para o mercado doméstico, outros R$ 364 bilhões foram disponibilizados no intuito de manter o consumo, mola propulsora, para que novos investimentos continuem ocorrendo mantendo com isso, as chamas da formação de riquezas acesas.

Por um lado a autoridade monetária tenta estimular a economia melhorando as condições de consumo, por outro mantém a preocupação com uma possível pressão de demanda sobre oferta, temendo uma alta dos preços o que poderia elevar os índices de inflação.

Na verdade o Banco central se vê as voltas de uma camisa de força, pois de um lado tenta assegurar o crédito e de outro não quer a vota da inflação e muito menos a possibilidade de recessão.

Com isso cotidianamente faz uso de políticas: monetárias, fiscais e cambiais no sentido de alcançar resultados que levem a uma situação próxima do equilíbrio. Como vimos anteriormente não se trata de tarefa fácil.

A economia entra justamente aí, pois se trata de uma ciência que ao longo dos séculos tem buscado trabalhar a produção, a distribuição, a comercialização e o consumo de bens e/ou serviços, em um ambiente de escassez de recursos.

Em não assim procedendo os resultados econômicos e sociais tendem a ficar comprometidos pois queda de atividade econômica, seguida de aumento no consumo cria um ambiente favorável para o aumento dos preços e inflação.

Para conter a escalada de preços o Banco central segura a Taxa Selic em porcentuais que inibe novos investimentos. Os reflexos recaem sobre o Produto Interno Bruto e também sobre os empregos.

As estatísticas do mês de novembro extraídas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho mostram que a queda no número de empregos em relação ao mesmo período do ano passado foi de 0,13% ou 40.800 trabalhadores demitidos.

Como para cada emprego direto se cria 3 indiretos, neste caso específico 120,4 mil pessoas acabaram sendo afetadas direta e indiretamente no mercado, perdendo temporariamente a condição de consumo.

Os resultados advindos da crise acenam para outro problema, antes dela a expectativa de geração de empregos neste ano ficava na casa de 2 milhões, a migração dos problemas também para o setor produtivo leva o Ministério a trabalhar com dados mais pessimistas, com isso a expectativa caiu para 1,85 milhões de postos de trabalho com carteira assinada a serem abertos no ano.

A retração dos números aponta para que 450 mil pessoas sejam afetadas direta e indiretamente em razão da queda da atividade econômica, reduzindo com isso as possibilidades de consumo e de novos investimentos.

Portanto meus amigos a crise é maior do que se pensava e por mais que se trabalha políticas voltadas ao desenvolvimento, ainda existem segmentos que pisam no freio frente às incertezas.

Goiás, como não é uma ilha e também faz parte do contexto econômico mundial também perdeu no período, 6 mil postos de trabalho, os segmentos mais afetados foram pela ordem o setor automobilístico e o do agronegócio, sem deixar de mencionar que a indústria de uma maneira geral, não tem sido forte geradora de empregos nos finais de ano. A esperança fica por conta do setor de bens de consumo leves (bebidas, calçados, alimentos, produtos têxteis e de papel e celulose) e também pelo bom desempenho que vem sendo alcançado por Micro, Pequenas e Médias empresas, que principalmente em período de natal, tendem a reverter sinais eminentes de crise, recolocando assim a economia a caminho do equilíbrio desejado.

Concluindo, obstáculos existem para serem vencidos, enfrentá-los com altivez e determinação, pode fazer com que empresas e governos se tornem mais parceiros e que os cidadãos, enquanto trabalhadores e consumidores mais fortes.

Um comentário:

  1. Texto publicado no jornal diário da manhã e disponível em:http://www.dm.com.br/impresso/7720/opiniao/59731,um_balanco_sobre_a_crise_financeira_internacional

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