Partidos se concentram em nomes para 2010 e esquecem de projetos. Líderes classistas, analistas e especialistas em marketing político se adiantam na discussão
INÃ ZOÉ E SARAH MOHN
Especula-se desenfreadamente sobre quem deverá ser candidato ao governo de Goiás em 2010. Confirma-se e nega-se no mesmo ritmo a vinda de fulano ao Estado, a desistência de beltrano à candidatura ou a incerteza do futuro político de sicrano. Páginas de política na imprensa goiana têm estampado numa rotina maçante afirmações negadas no dia seguinte.
Enquanto as agremiações partidárias se concentram em afunilar negociações e consolidar alianças, pouco se ouve falar em projetos políticos para governar Goiás. Em meio a tantas indefinições — que só devem mesmo começar a partir de setembro, mês limite para filiações em partido políticos — há certas perguntas que ainda não foram respondidas por grupos políticos e segmentos organizados da sociedade. Qual o projeto político-administrativo que Goiás precisa a partir de 2011? Independentemente de quem vencer as eleições daqui a 15 meses, o que o governante eleito deve traçar como prioridade para administrar o Estado?
Lideranças políticas e classistas, empresários, analistas, economistas e mercadólogos, os famosos “marqueteiros”, porém, se adiantam na discussão e apontam as principais mudanças que devem ocorrer no Estado. Obviamente que as divergências são tamanhas. Uns defendem fortes investimentos em infraestrutura, como a duplicação de rodovias e expansão das redes de energia, e outros creditam à Educação a tarefa de promover o desenvolvimento de Goiás.
Agilidade é a palavra chave para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Paulo Afonso Ferreira. Ele conta que a entidade tem se reunido com o segmento para a elaboração de um plano, que será entregue ao próximo governante e irá colaborar nas ações relacionadas ao setor. O excesso de burocracia, segundo o presidente, tem emperrado ações públicas importantes, consequentemente refletidas no crescimento da região. “Devemos estudar novo processo de desenvolvimento industrial, de atração de empresas e incentivos, de forma a ter competitividade no setor empresarial goiano.”
Para o líder classista, a crise financeira mundial, por mais que tenha atingido as grandes potências como EUA e Europa, trouxe benefícios para o Brasil e para Goiás. “A política de ficar exportando somente matéria-prima não é o ideal, mas tenho que admitir que o Estado vem crescendo muito neste sentido. Para que esse desenvolvimento se acentue é necessário avançar no processo de construção de hidrovias, nas linhas de transmissão de energia elétrica, duplicações das rodovias estaduais, inclusive aderindo à política das concessões”, completa.
Ferreira diz ainda que não vê bons projetos na área social sem que primeiro se invista em infraestrutura para dar suporte às ações. O diálogo focado no assistencialismo, segundo ele, tende a gerar cada vez mais necessidades. O ideal seria a profissionalização de mão-de-obra por meio de políticas públicas conjuntas entre Federação e Estado, aumentando assim as chances de emprego e geração de renda, que consequentemente culminariam no desenvolvimento social.
À frente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg), Pedro Bittar acredita que o primeiro passo a ser tomado pelo novo governo deve ser voltado para a produção. “Temos que transformar Goiás no principal polo sementeiro do País”. Lembrando que o Estado ficou fora da lista das sedes da Copa do Mundo de 2014, Bittar ressalta que a atenção deve ser redobrada de forma que as obras primordiais não sejam prejudicadas. “Temos que tratar de energia e transporte. Quando se investe na industrialização isso gera comércio e prestação de serviço”, frisa.
A qualificação profissional tem sido fator de peso no que diz respeito ao desenvolvimento, tanto industrial quanto social, mas em Goiás esse recurso foi durante muito tempo escasso, sendo muitas vezes importado de outras regiões. Nos últimos dez anos, como observa o presidente da Acieg, essa realidade tem mudado devido a incentivos, que devem ser ainda mais ampliados. “Outras frentes, como a indústria do turismo, vêm se desenvolvendo bem e necessitam de ações mais enérgicas por parte do poder público.”
Sobre o teor dos discursos de 2010, ele ressalta que salientar demais a crise mundial será um tiro no pé, para qualquer que seja o candidato. “Eles devem discutir o futuro de Goiás, não o passado. Lá na frente não teremos crises e sim realizações. Nós do setor produtivo queremos propostas que venham aumentar a arrecadação do Estado, mais empregos e divisas.”
Concordando com Bittar, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, diz que os candidatos mais precavidos talvez usem a crise para levantar um discurso de cautela, mas procurando evitar o assunto sempre que possível. Ele avalia que hoje a renda do brasileiro tem segurado muito este momento de instabilidade econômica e dentro desse conceito Goiás está bem situado. “O agronegócio tem minimizado este problema em todo o Brasil”, observa.
Para o presidente da Faeg, o ponto primordial para o avanço das realizações públicas, em se tratando de planos de gestão, gira em torno da discussão permanente que deve haver entre sociedade representada e governo do Estado. Schreiner lembra que 70% da economia goiana está calcada na agropecuária, cabendo aí um olhar especial para o setor, com destaque para o pequeno produtor, que é quem gera os efeitos da cadeia.
Ele afirma, entretanto, que os avanços tecnológicos devem ser intensificados e estarem totalmente à disposição da sociedade, diferentemente do que ocorre hoje com as pesquisas agropecuárias realizadas em nível privado. Criticando a política agrícola desenvolvida pelo governo federal, o presidente a avalia como capenga e ineficiente. “Por isso temos tido tantos problemas nos últimos anos, como a falta de mecanismos de mercado que possam proteger o produtor e sua produção.”
Schreiner vê possibilidade de desenvolvimento com maiores investimentos em infraestrutura e logística, de forma que os produtos se tornem mais competitivos. Neste contexto, a defesa sanitária ágil e eficiente seria um dos fatores primordiais na garantia da qualidade dos produtos e, consequentemente, mais espaço no mercado.
Sobre questões ambientais, dificilmente levantadas em discursos eleitoreiros, não que sejam menos importantes, Schreiner defende a política da sustentabilidade. O País possui atualmente uma legislação única, que no entendimento dele tem prejudicado o desenvolvimento regional, principalmente por seu extremismo. “É preciso que haja sempre uma interferência técnica e científica com o apoio do governo para que possamos evoluir de forma autossuficiente. Penso que esse assunto deve ser discutido com muita maturidade e grandeza.”
Presidente da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial), Raul Paulo Costa faz uma análise sucinta a partir do quadro atual, relembrando ainda os investimentos e incentivos fiscais praticados na década de 1980. De acordo com ele, com o advento do Programa Fomentar muitas empresas foram motivadas a se instalarem em Goiás, o que a princípio, mesmo com todos os benefícios, foi positivo. “Hoje, por exemplo, exportamos carne bovina. Mas como aumentar a produção se estamos em um momento de crise? Não tem comprador”, ressalta.
Para que a realidade econômica tenha as melhoras esperadas o presidente da Adial aposta em uma política de contenção de despesas, assim como já vem sendo feito pela atual gestão. “O importante é continuar mantendo a casa em ordem. Gastar somente o que realmente entra em caixa.” Indagado sobre as necessidades de investimentos em infraestrutura e no setor social ele diz que são necessários, mas distantes do que se necessita realmente em Goiás. “Se a economia não está boa não é possível atender a outras áreas.”
Educação entre as apostas
Promover o crescimento, atender as necessidades da população em todas as áreas, investir em ciência e tecnologia, enfim, são inúmeros fatores de responsabilidade do Estado, que ainda precisa lidar com as pressões sofridas por todos os lados. Como atender ao desejo do produtor rural sem interferir nas cidades, ou mesmo dar incentivo para as indústrias quando se necessita de arrecadação para custear inclusive os programas de cunho social? Há de se convir que não é tarefa fácil e infelizmente, quando atitudes irresponsáveis são tomadas, os danos são sentidos em praticamente todas as esferas da sociedade.
Professor de Economia da Universidade Católica de Goiás (UCG), Luiz Alberto Gomes de Oliveira afirma que na questão fiscal e ambiental o Estado trilhou o caminho da insustentabilidade. Ele, que também é secretário municipal de Planejamento e Urbanismo e presidente do diretório local do PT, diz que a destruição do Cerrado é nítida e que a falta de água em algumas regiões já apontam para o grave problema que poderá ser enfrentado em um futuro próximo. “Não estamos tratando o esgoto como deveria, poluindo rios e em algumas regiões predomina a monocultura com a utilização de defensivos agrícolas”, acentua.
Ele observa claramente que há privilégio maior para as grandes cidades enquanto pouco se fala em políticas voltadas para o homem do campo e os pequenos municípios, que sofrem com a falta de investimentos. Do ponto de vista fiscal, o professor diz que os incentivos dados no passado já não conseguem manter a mesma eficácia. Até porque, vários outros Estados, incluindo o Distrito Federal, já se utilizam dessa prerrogativa. “E como não se aprova a reforma tributária, nem sabemos se esse incentivo vai continuar existindo.”
Essa irresponsabilidade tributária, segundo ele, fez com que Goiás perdesse a capacidade de investimento em infraestrurura e de propiciar bens públicos ao conjunto do Estado. “É necessária a reforma profunda do modelo de desenvolvimento, para que não continuemos sendo penalizados. Hoje a população paga uma carga tributária maior, para que alguns grupos econômicos se beneficiem desses incentivos”, avalia. Entre os investimentos necessários ele aponta a qualificação de mão-de-obra, a ampliação da estrutura de comunicação, além do melhoramento logístico.
Mesmo discurso — Apesar de pontuar o que acredita ser necessário para uma boa gestão a partir de 2011, Oliveira não aposta em grandes mudanças nos palanques: “Apesar de alguns candidatos indicarem certa evolução, vejo basicamente o discurso de quase 20, 30 anos”. Ele diz ainda ser bem provável que a eleição nacional para Presidência da República interfira, mesmo que indiretamente, no pleito estadual, ressaltando que tudo vai depender da conjuntura política que se formará até lá. “É natural que a eleição presidencial gere interferência positiva ou não, dependendo inclusive de como o Brasil vai sair dessa crise.”
Para o economista Jeferson de Castro Vieira o momento é de grandes oportunidades. Ele nota que o Brasil tem feito bons negócios com o exterior que podem certamente vir a contribuir com a economia goiana. Os investimentos, principalmente neste momento de crise, devem continuar mesmo que venham por meio de capital estrangeiro. “Precisamos abrir horizontes com outros países como a China, trazendo novas indústrias”, enfatiza.
Mesmo defendendo uma gestão voltada para a ampliação da infraestrutura, o economista ressalta que a Universidade Estadual de Goiás (UEG) deve receber tratamento especial de forma a consolidar políticas mais amplas de inovação tecnológica. Para que haja crescimento e desenvolvimento significativo nos próximos anos, Vieira diz ser essencial as parcerias entre governos federal, estaduais e municipais. “Esse é um projeto que precisa consolidar a logística, incluindo Ferrovia Norte-Sul, a duplicação de rodovias, enfim, instrumentos que colaborem para a redução no custo e agilidade nos transportes.”
Na agenda social, ele diz que será necessário preparar o cidadão para o mundo do trabalho com a qualificação da mão-de-obra. Em decorrência de problemas financeiros, projetos sociais do Estado tiveram que ser revistos e isso pode mudar o discurso assistencialista das próximas eleições. Porém, o economista diz que, até mesmo em decorrência da fragilidade econômica atual, ele deve ocorrer de maneira mais amena.
Coordenador do curso de Ciências Econômicas e Contábeis das Faculdades Alves Faria (Alfa), Júlio Paschoal diz que o melhor é o Estado implementar uma política de inclusão social pela produção. Segundo ele, qualquer governo deverá fazer uma combinação das duas formas de gestão, tanto investindo em infraestrutura quanto no social. Ele lembra que investimento em obras se faz necessário principalmente como forma de combater a crise. “Obra pública gera emprego, um imperativo no Brasil”, lembra. Já a priorização no social é uma forma de incluir pessoas que estão à margem da sociedade.
O professor diz que a priorização em infraestutura é uma forma de diminuir os gastos com o social e automaticamente colocar o Estado numa posição de crescimento. “Na medida que as pessoas têm emprego e renda, o Estado precisa dar meno Bolsas ou outros tipos de ajuda às famílias.”
Equilíbrio — O ex-ministro do Desenvolvimento Flávio Peixoto é enfático ao dizer que tudo decorre do ensino de qualidade. Segundo ele, que é economista, a discussão de novo projeto para o setor tem tido respaldo em nível nacional. Mas ele diz que não tem notado a mesma preocupação em Goiás. “A educação tem o poder de reduzir as desigualdades sociais e é o que precisamos neste momento.”
Peixoto afirma, porém, que é necessário haver um equilíbrio entre investimentos na área social e em infraestrutura. “O governo já não pode abandonar essa rede de proteção constituída hoje, que envolve inclusive a Saúde e a Segurança. Mas não adianta investir só no social sem gerar emprego e renda.” Sobre a interferência da política nacional em nível estadual o economista diz que não é um fato novo. “Regionalmente ela sempre ocorreu de forma muito independente. A proximidade e valorização das questões estaduais causam isso”, frisa.
Professor e reitor da Universidade Anhanguera, Jovenny Cândido de Oliveira diz que nenhum governador será bem sucedido se não respeitar três aspectos básicos: Educação, Saúde e Segurança. Professor há 40 anos, ele observa que os alunos de maneira geral têm chegado frágeis ao Terceiro Grau em decorrência, principalmente, de má formação no ensino básico.
Sobre a necessidade de melhorar o atendimento à saúde no Estado, Jovenny, que é um dos grandes nomes do PP goiano, diz que entre as medidas que devem ser ampliadas está a construção de mais hospitais regionais, o melhor zoneamento e a intensificação da medicina familiar. No fator segurança ele ressalta que a cada dia a situação tem ficado cada vez mais “cataclísmica”, necessitando de medidas enérgicas por parte do poder público.
Tratando do que o reitor chama de aspectos secundários, ele levanta a necessidade de maior valorização do setor agropecuário, já que Goiás é um grande produtor de commodities. Contudo, ele ressalta que se faz necessário a industrialização destes produtos de forma a agregar valores e, com isso, tornar os preços mais competitivos. “Neste momento de crise, seremos menos afetados que aqueles, que, por exemplo, produzem computadores. Hoje um dos grandes mercados que temos é a China e a Índia, que juntas somam mais de 2 bilhões de habitantes”.
Oliveira busca na memória seus tempos de juventude para exemplificar o salto que o Estado deu nos últimos 50 anos. De acordo com ele, se levar em consideração que há cinco décadas se demorava três dias para se chegar a Campinas (SP), por não haver nenhuma estrada pavimentada, fica mais fácil mensurar o caminho do desenvolvimento percorrido até agora. “Os governadores que por aqui passaram atuaram muito bem, cada um no seu setor, mas vejo que este é o momento de investir nessas três áreas: Educação, Saúde e Segurança”.
Visualizando o cenário político de 2010, o professor acredita que haverá a interferência nacional na campanha estadual, haja vista o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contar com cerca de 80% de aprovação popular. “Vai haver influência de alguma forma, mas isso só será sentido por volta de novembro e outubro.” Outro nome que ele considera que interferirá diretamente nas próximas eleições é o do governador Alcides Rodrigues. “A palavra dele vai ser extremamente importante, porque hoje ele é reconhecido como um grande líder e realizador”, destaca.
O tempo vai passando e os velhos discursos se consolidando novamente na sociedade. Comandar um Estado não é tarefa fácil e depende de planejamento. Essa é a palavra: planejar, para que os erros já cometidos em outras gestões não voltem a se repetir. Os recursos públicos não devem ser tratados de qualquer forma, alicerçado no “achismo”, mesmo que por diversas vezes isso ocorra. O que se deve ou não fazer, não cabe a um candidato responder, mas sim a um conjunto de fatores que respaldem suas ações ao longo dos quatro anos de mandato, de forma que Goiás não pague pelo erro de um dia ter apostado em apenas uma gestão.
Marketing pontua os desafios
Quem costuma cuidar da imagem dos candidatos durante as campanhas eleitorais lida com um desafio peculiar a cada pleito. Profissionais de marketing estão percebendo que, assim como o partido político não é fator primordial para o eleitor escolher o candidato, lentamente a população quebra a lógica de que o objeto mais importante de uma eleição é o político.
“A população não está mais em busca de candidatos, mas de propostas”, explica o publicitário Marcus Vinícius Queiroz, com experiência de várias campanhas políticas, inclusive no exterior, e que se diz um terapeuta da comunicação. Na opinião dele, aos poucos se percebe amadurecimento da consciência política dos cidadãos. É um processo lento, mas que se movimenta no Brasil. Prova disso seria o insucesso da estratégia de ataques em propagandas eleitorais de rádio e televisão durante o período de campanha.
“O ataque sempre mostra fraqueza dos candidatos, e a população espera muito mais que isso, espera propostas construtivas”, avalia Hamilton Carneiro, proprietário da Agência de Propaganda Styllus. Desde 1979 trabalhando com Iris Rezende (PMDB), Hamilton cita o exemplo da eleição municipal do ano passado, em que a equipe de marketing que cuidou da campanha do prefeito priorizou a apresentação de propostas e evitou tanto ataque quanto o revide deles nas propagandas gratuitas. O resultado deu certo: o peemedebista foi reeleito no primeiro turno com 74,16% dos votos.
Ataques fora da lista do candidato é hora de definir a estratégia que será apresentada ao eleitor para governar o Estado. É consenso entre os especialistas ouvidos pela reportagem que o primeiro passo é fazer um mapeamento de carências presentes em todo o Estado. Em seguida, deve ser produzido um levantamento dessas carências. Por fim, é chegado o momento de produzir um plano estratégico de governo.
É importante ressaltar que essa primeira etapa deve ser realizada antes do início do período eleitoral, pois a meta de trabalho do candidato tem de estar na ponta da língua em qualquer contato do político com o eleitor. O que nem sempre ocorre. Para Marcus Vinícius, políticos caem com frequência no mesmo erro: “Mais uma vez vão deixar pra fazer agenda política de última hora. Vão apresentar propostas que serão impossíveis de serem cumpridas, e quando começar a governar vão culpar a administração anterior, dizendo que assumiram o Estado quebrado”.
Falta visão — Adepto da opinião de que falta visão estratégica, o publicitário Marcus Vinícius pontua como falha recorrente a ausência de pré-campanha. Ele critica que até agora os possíveis candidatos nem sequer se apresentaram como pré-candidatos. Por consequência, estariam sociedade e imprensa sendo pautadas por especulação. “Deveriam ser feitos debates de pré-campanha eleitoral, apresentando à população projetos reais e buscando a participação de todo segmento social na elaboração desses projetos.”
Mas qual seria o melhor discurso para o próximo governador de Goiás? Que deveria conter nos projetos a serem apresentados pelos candidatos? O?que Goiás precisa?
Na opinião do diretor da AMP Propaganda, Marcos Siqueira, o próximo governador deve se basear na implementação de política para geração de emprego visando o desenvolvimento do Estado. “O caminho seria ações de urgência na área social e uma política desenvolvimentista para melhorar a qualidade de vida. O resto viria a reboque”, diz. Siqueira aposta no discurso social e sugere que a melhor cartada é priorizar áreas de Educação, Saúde e Segurança: “Como o Estado não tem muito recurso em caixa, é necessário investir nas áreas básicas”.
Hamilton Carneiro discorda. Para ele o melhor projeto administrativo para Goiás deve revisar o projeto de infraestrutura do Estado. Ele justifica a prioridade argumentando que hoje os problemas nessa área são os mesmos de 20 anos atrás. “Há muitos locais no Estado sem estradas, sem energia elétrica. É preciso aumentar o potencial energético dos municípios. Melhorando a infraestrutura, atraem-se novas empresas, o que fomenta o desenvolvimento do Estado”, pondera.
Já Marcus Vinícius defende a tese de que para se ter um bom discurso é preciso uma estratégia definida, que não confie apenas em marketing eleitoral, e que coloque nas mangas do candidato propostas que o diferenciem dos demais. “O candidato que quiser se destacar no próximo pleito deve ter um propósito diferente e apresentar à população um diagnóstico real da situação do Estado. A partir daí, avaliar como poderia ser gerida uma nova realidade de desenvolvimento.”
Marcus Vinícius dá dica a quem ainda não colocou o carro na avenida. “A primeira pergunta que o governante pode começar fazendo é: o que Goiás quer ser daqui a dez anos dentro do cenário nacional?” Questões de médio e longo prazos parecem ser a alternativa que eleitores mais politizados buscam. O problema é que esse tipo de projeto não garante retorno eleitoral. “Políticos trabalham só em cima de necessidade, e não de possibilidade”, critica.
Pesquisas — É sabido que atividade política é movida por pesquisas quantitativas e qualitativas. As ações de representantes do Executivo e do Legislativo — se não todas, a maioria — são executadas depois de ouvida a opinião do eleitorado, principalmente pelos que se preocupam com futuro político. O erro é que se investe nesse aspecto apenas quando se está no cargo desejado. Antes de chegar lá, gasta-se dinheiro com um direcionamento ultrapassado que prioriza saber quem é a preferência ou o principal problema apontado.
O novo eleitor, com perfil mais exigente politicamente, prefere ser questionado sobre o que ele quer para o Estado, e não quem ele quer que o governe. Se há pré-candidatos seguindo essa linha, será bem-sucedido. Mas o momento de colocar o resultado das pesquisas na mesa de debate urge. Como bem concorda Hamilton, em um ano — ou mais especificamente 15 meses — não há uma mudança de cenário considerável. “As necessidades que as pesquisas apontam hoje serão as mesmas que na campanha de 2010. Tem coisas que são permanentes”, avalia.
O que pensam os políticos
As idéias apontadas por representantes dos principais partidos políticos de Goiás trazem novidades que podem render Ibope — algumas chegam a ser ousadas. Resta saber se serão materializadas em propostas concretas. Mas a linha de pensamento permanece a mesma defendida pelos grupos políticos de eleições passadas.
Ousado, o ex-deputado Vilmar Rocha (DEM) acredita que transformar a atual política social seria o trampolim para alcançar resultados em outras esferas. “É preciso criar uma política social eficiente, emancipatória. Infraestrutura não pode ser o programa central de um governo, porque isso é muito fácil fazer, basta querer”, argumenta. Defende que o governo no poder tem que promover o Estado com prestação de serviços e melhorar o padrão de assistência social. “Governo moderno é o que promove e garante direitos aos cidadãos.”
Vilmar Rocha exemplifica sua idéia afirmando que se fosse definir uma estratégia de governo, começaria transformando a Universidade Federal de Goiás (UEG) num grande centro de formação de professores para a Educação Fundamental, para atuar especialmente no interior do Estado. A UEG não deixaria de disponibilizar cursos de graduação, mas priorizaria a formação de professores. “Esse centro seria uma referência nacional”, imagina o democrata, que acrescenta: “Governar não é só fazer obras, isso é insuficiente. Asfaltar rua não é algo que modifica um Estado, apenas continua. Se continua não transforma”.
Na mesma linha de raciocínio, o deputado estadual e vice-presidente do PSDB Metropolitano, Daniel Goulart, considera que o principal ponto que necessita de revisão em Goiás é a questão da desigualdade social. “Goiás precisa retomar a política que construiu uma rede de proteção social”. Goulart não descarta investimentos e manutenção dos projetos para desenvolvimento de infraestrutura, mas sustenta que a geração de oportunidades e a qualidade dos serviços prestados pelo Estado devem ser tratadas com destaque. “Governar é pensar no ser humano.”
Engrossa o discurso também a principal liderança do PTB em Goiás. Deputado federal e presidente da legenda no Estado, Jovair Arantes defende que o ponto de partida deve englobar valorização e criação de alternativas para a juventude. “Cuidado com o primeiro emprego e a luta pela valorização dos aposentados. O caminho é por aí”, sugere. Dentro dos preceitos trabalhistas, Jovair acredita que a consolidação de obras estruturantes deve ser pensada em conjunto com a juventude — em suas palavras, uma coisa deve ser associada à outra. “O novo governo deveria dar à sociedade horizonte para se desenvolver, hoje falta isso.”
Presidente do PPS goiano, Gilvane Felipe junta toda a orquestra num bloco só. Ele defende um projeto amplo: “Que leve em conta o desenvolvimento econômico do Estado, que priorize a saúde e a educação, acima de tudo, onde haja espaço para o fomento da cultura, com apoio a artistas e artesãos, que valorize as pessoas como sujeitos de sua historia, que de alguma forma consulte e valorize a participação das pessoas na construção do Estado e que incentive a preservação do meio ambiente”.
Para Gilvane, é necessário chegar a um denominador comum no somatório entre infraestrutura, saúde e área social. “Um plano estratégico para o Estado de Goiás crescer e se desenvolver”, explica. A ausência desse quesito, na opinião do líder do PPS, é a carência de “rumo” para políticas públicas. “Precisamos de um governo que tenha visão sobre o que deve ser feito em termos estratégicos para o desenvolvimento do Estado”. Por fim, resume que “o discurso do candidato deve ser levantar a bandeira do desenvolvimento”.
Surpresa — Pode soar como surpresa para alguns, mas uma das mais importantes cabeças do PMDB goiano define como prioridade para o próximo governo estadual o investimento na área social. Conhecido pela defesa de obras como fator de desenvolvimento, o presidente do PMDB em Goiás, Adib Elias, disse à reportagem ser “primordial a geração de emprego e incremento de renda para o desenvolvimento do Estado”.
Adib comprova o novo pensamento citando minério como fonte geradora de emprego pouco explorada no Estado. “E deve ser explorada o mais rapidamente possível, porque é excelente para geração de emprego e renda”. O peemedebista pode provocar mais espanto ainda ao afirmar, com contundência, que Educação deve ser outro principal quesito de prioridade para a próxima administração. “Goiás tem que investir na qualificação de professores e criar ensino de qualidade. Além disso, o governo deve incrementar um trabalho intenso para melhorar a Saúde.”
E a infraestrutura? “Não deve faltar. O investimento deve ser feito em locais estratégicos, principalmente nos novos distritos industriais do Estado”. Para ele, um bom exemplo que contemplaria o resultado de investimento em todas essas áreas seria Goiânia. “É hoje referência em infraestrutura, em termos de meio ambiente e qualidade de vida”, opina.
Deputado federal e presidente do PR estadual, Sandro Mabel sugere o que realmente seria a solução dos problemas: “Casar os dois projetos (estrutural e social)”. “Seria”. Enquanto não é, Mabel reclama que o próximo governo não pode se ausentar de buscar alternativas. Ele defende o que tem sido executado no âmbito social, mas critica o restante. “O que não pode é deixar o Estado mal administrado como ficou. Nossa infraestrutura evoluiu para onde? O Estado não cresce sem estradas, sem pontes, sem movimentar a produção. Passamos oito anos sem nada.”
Em defesa da atual administração do governador Alcides Rodrigues (PP), o secretário-geral do PP, Sérgio Lucas, acredita que o melhor projeto para o próximo governador é “continuar utilizando o que a receita permite”. Propõe incremento de receita para alavancar investimentos, especialmente nos setores de energia e transporte. Engloba educação e saúde também como áreas imprescindíveis. “Três áreas essenciais que merecem atenção são saúde, educação e segurança. Elas que dão suporte às outras.”
O pepista critica a cultura de governantes não darem continuidade às administrações anteriores, interrompendo o sistema de trabalho implantado para se colocar outro em vigor. “É preciso que o governante faça um planejamento estratégico para médio e longo prazos. Planejar para apenas quatro anos é danoso para o Estado”, salienta.
Mas Sérgio Lucas atesta que “necessariamente, é melhor que se priorize investimentos em infraestrutura”. Na opinião dele, dar continuidade a programas sociais é necessário, mas cria dependência indesejada da população. “Isso é danoso e arriscado a longo prazo. Acomodar a população com ajuda permanente impede que ela se desenvolva sozinha.” Sugere que a mais palpável alternativa capaz de estimular emprego é a implantação de transporte adequado e energia.
Outro ponto destacado pelo secretário é analisar tendências para incentivar projetos de desenvolvimento em regiões específicas. “Os investimentos devem ser observados sob um olhar diferenciado. Planejamento regional específico para cada área”. Exemplo seria trazer investimentos internacionais para Goiás começar a competir com os principais Estados do Brasil.
A partir de 2011, sob um novo governo estadual, o eleitorado espera que mude não apenas a voz do governador, mas também o discurso. É aguardar pra conferir.
Disponível em: http://www.jornalopcao.com.br/