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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mercado de trabalho em Goiás

As relações de trabalho dependem das relações de produção em qualquer economia. Diante de tal fato, uma política econômica voltada tão somente para o controle da inflação em tempos de crise pode ver seu mercado de trabalho sofrer grandes baixas, como vem ocorrendo nos últimos meses.
O avanço da crise financeira internacional nos últimos seis meses tem provocado a retração no crédito, tendo em vista a incerteza que paira sobre o mercado. Os reflexos desta incerteza impactam negativamente no setor produtivo, principalmente nos setores de bens semiduráveis e duráveis, que dependem de um montante maior de recursos para garantir seus processos de investimentos.
No final do ano passado, dois setores sentiram mais os efeitos decorrentes da crise, a saber: veículos de passeio, utilitários e também eletroeletrônicos. Mesmo com grandes subsídios fiscais, não foram capazes de continuar obtendo os mesmos resultados em termos de comercialização dos seus produtos.
A retração nas vendas por um lado aumentou o estoque destes produtos e, por outro, deu início a um processo de demissão em massa de trabalhadores, aprofundando ainda mais os efeitos da crise financeira internacional.
Na medida em que os trabalhadores são sacados do mercado de trabalho, aumenta a inadimplência e, por conseguinte, as dificuldades de outros setores, que dependem direta e indiretamente dos recursos advindos destes trabalhadores. Portanto, o Estado de crise afeta a todos e cria obstáculos ao crescimento da economia.
No Brasil, todos os Estados foram abalados com os efeitos desta crise e, por mais que os integrantes das áreas econômicas do governo federal tentassem passar à sociedade que a economia estava blindada em relação a esta, os números da economia se mostravam totalmente contrários a esta orientação.
As bolsas acumularam perdas superiores a 20%. Ações até então consideradas estáveis como da Petrobras e da Vale do Rio Doce perderam muito rendimento, deixando seus investidores apreensivos.
A queda das bolsas promoveu especulação no mercado de câmbio, levando o dólar a uma grande apreciação em relação ao real. A princípio, este movimento foi bem-visto pelos exportadores, pois os preços relativos dos produtos brasileiros em relação aos estrangeiros ficaram mais baratos.
O problema é que o parque industrial nacional detém um grande número de empresas estrangeiras, cujos componentes são importados. A alta do dólar impactou negativamente nos custos de produção, conta repassada imediatamente aos consumidores, pois as empresas não abrem mão de suas margens de lucro.
O resultado foi majoração de preços no setor de máquinas e equipamentos, eletroeletrônicos e de veículos. A ação do governo veio em seguida. Por um lado, reduziu o IPI, para assegurar a comercialização no mercado de veículos e também nos setores onde um imposto se coloca como um forte componente da formação dos preços. Por outro, reduziu as taxas de juros em porcentual que não refrescou em nada a conta a ser paga pelo consumidor quando compra no crediário ou mesmo quando faz uso do cheque especial.
Diante deste cenário, os consumidores não foram às compras como o governo imaginou. Os juros ainda estão entre os mais altos do mundo. As vendas caíram e com elas, os investimentos anteriormente programados, sem deixar de mencionar o fato de que a taxa de desemprego já supera a casa de 7%.
As reservas internacionais perderam nada mais que US$ 30 bilhões de dólares, estando atualmente na casa de US$ 200 bilhões de dólares. Isto porque o Banco Central teve que intervir no mercado de câmbio, mesmo este sendo flutuante, para conter a alta do dólar, com isso, acabou por retirar ainda mais moeda nacional do mercado, mantendo as taxas de juros em porcentuais que só atendem a especulação financeira.
Goiás, em que pesem os problemas advindos da crise financeira internacional, ainda conseguiu fechar o ano de 2008, com números bastante positivos. De janeiro a dezembro, criou 47. 347 empregos formais, alta de 6,24% porcentual, recorde em sua série histórica, segundo dados extraídos do Caged/MT.
O destaque ficou para o setor de serviços, que abriu naquele ano 17.624 novas oportunidades de trabalho, seguido de perto pelo comércio, que criou 12.001 empregos com carteira assinada, e da construção civil, com 8.711 postos de trabalho.
A indústria de transformação, setor mais afetado pela crise, eliminou 18.378 postos de trabalho, tendo criado apenas 4.736 ou 18% do total.
O dinamismo do setor de serviços pode ser visto nos seguintes segmentos: alojamento e alimentação, com 6.648 novos postos de trabalho; comércio e administração de imóveis, com 6.303 empregos com carteira assinada; transporte e comunicação, com 1.910 empregos; comércio varejista de materiais de construção, com 1.141 novas colocações; e o comércio varejista de equipamentos de informática e de comunicação, com 1.385 novos empregos.
Na construção civil, o destaque ficou por conta da construção de edifícios, cujos empregos criados foram da ordem de 2.747, seguido por rodovias e obras urbanas, com 2.528 novos postos de trabalho, e o segmento de infraestrutura governamental, com 998 novos postos de trabalho.
Os municípios com mais de 30 mil habitantes que contribuíram para o alcance destes resultados no setor de serviços e nos demais foram: Goiânia, com 17.656 novos empregos; Aparecida de Goiânia, com 6.951 novos postos de trabalho; Anápolis, com 3.662 empregos formais; Catalão, com 2.087; e Itumbiara, com 1.380 empregos com carteira assinada.
Dos municípios com menos de 30 mil habitantes apresentaram como destaque: Itapaci, situada na região Norte do Estado, com 2.510 novos empregos, puxados pelo setor sucroalcooleiro e de atomatados; Campo Limpo de Goiás, com 1.352 novos postos de trabalho; e Jandaia com 1.026 novos trabalhadores com carteira assinada.
Os resultados no mercado de trabalho goiano só não foram melhores porque, no mês de dezembro, a crise mostrou parte da sua força: 26.814 trabalhadores perderam o emprego, ou seja, mais de 50% do resultado alcançado no ano.
Concluindo: infelizmente, o Estado faz parte do contexto mundial e não está blindado contra os reflexos da crise. A diferença é que as políticas públicas voltadas ao desenvolvimento regional aqui implementadas, não subsidiaram apenas a atividade industrial, mas todos os segmentos produtivos.
Os incentivos fiscais alimentam o setor industrial, de distribuição e de logística enquanto os benefícios fiscais alimentam o setor atacadista. Esta medida beneficia indiretamente o comércio varejista, já que os produtos chegam a eles mais baratos, levando-os também a beneficiar os consumidores que ficam na ponta.
É por esta razão que os indicadores econômicos e sociais o colocam como a 9º economia do Brasil.

Disponível em: www.dm.com.br/impresso/7782/opiniao/65328,mercado_de_trabalho_em_goias

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Produção industrial

O ambiente macroeconômico vivenciado no último quadrimestre do ano de 2008, em que pesem, as ações acertadas, tomadas no tempo e na hora, pela autoridade monetária, não foram capazes, de evitar perdas na atividade industrial e por conseguinte, no emprego e nas horas extras pagas ao trabalhador, neste setor.

No período foi observado também, um menor dinamismo, nas comparações livres de influências sazonais, neste sentido e pelo terceiro mês consecutivo, foram negativas em relação ao mês anterior, as taxas de emprego e do número de horas trabalhadas.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o valor real da folha de pagamento dos trabalhadores da indústria, ajustado sazonalmente recuou 0,7%. O acumulado no período apresentou queda de 3,6%.

No comparativo com iguais períodos do ano anterior, os resultados ainda foram positivos: 4,1% no indicador mensal, 4,3% no trimestre e 6,0% no acumulado do ano. Para o acréscimo no indicador mensal, doze de quatorze localidades pesquisadas, apresentaram resultados positivos, destaque: São Paulo 6,0%, impulsionado pelos meios de transportes 8,3%, máquinas e equipamentos 8,2% e produtos de metal 14,4%, seguido de Minas Gerais com 4,1% e o Paraná com 5,4%.

Nestas unidades da Federação os maiores ganhos salariais vieram dos segmentos de transporte 31,6%, máquinas e aparelhos eletrônicos e de comunicações 24,9%, além de outras máquinas e equipamentos 15,3% e alimentos 8,4%. As perdas ocorreram apenas no Rio Grande do Sul (-1,1%), por exemplo, no segmento de alimentos e bebidas o desempenho foi de (-12,9%) enquanto que no de calçados (-4,3%).

Os resultados verificados setorialmente foram positivos, tendo em vista que, neste caso a folha de pagamento real aumentou em quinze de dezoito setores fabris existentes, sendo que os melhores resultados foram alcançados nos setores de transportes 10,5%, máquinas e equipamentos 8,2%, produtos de metal 10,2%, e máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações com 7,1%, tendo as retrações sido verificadas no segmento de vestuário em (-14,0%) e madeira (-4,3%).

A análise trimestral também apresentou resultados positivos no tocante ao valor real da folha de pagamento isto em razão do setor industrial. Nos últimos vinte períodos de comparação houve crescimento, no entanto a crise, acabou tendo influência negativa para o fechamento do comparativo, com o período anterior, do terceiro e quarto trimestre. O terceiro trimestre, apresentou desaceleração de (7,1%) enquanto que no quarto, esta foi de (4,3%) em 2008.

Portanto no fechamento do ano passado a contabilidade da crise foi a seguinte: doze localidades e treze ramos de atividade econômica, apresentaram quedas significativas em seu ritmo de produção, destaque: Produtos Químicos (14,3%), meios de transporte (4,7%) e metalurgia básica com (6,9%).

As localidades em que houve maior desaceleração foram pela ordem: Paraná (4,0%), Minas Gerais (3,7%) e São Paulo (3,6%). Estados onde se encontram os maiores mercados consumidores do país e por conseguinte número expressivo de trabalhadores. Isto explica o fato de que alguns sindicatos presentes nestes cortes geográficos estarem negociando com segmentos industriais redução de salários e de horas trabalhadas como mecanismo para evitar novas demissões. Caso haja o agravamento da crise, sobretudo nos dois primeiros trimestres deste ano, as concessões que vem sendo feitas por estes sindicatos, tende a ocorrer também fora do centro dinâmico da economia brasileira.

Na verdade, uma instabilidade no setor de produção tende a reduzir os dividendos advindos do setor, com isso a compensação vem na forma de desemprego, normalmente quem paga a conta dos desarranjos na economia são os trabalhadores.

Na verdade, uma instabilidade no setor de produção tende a reduzir os dividendos advindos do setor, com isso a compensação vem na forma de desemprego, normalmente quem paga a conta dos desarranjos na economia são os trabalhadores.

O problema é que o aumento do número de desempregados no País afeta diretamente aqueles que estão empregados. Isto porque o excesso de mão-de-obra ociosa acaba fazendo que os trabalhadores tenham dificuldades de negociar melhorias salariais em suas datas-base. A tendência neste caso é de substituição, do trabalhador que ganha mais por aquele que ganharia menos por se encontrar desempregado.

Em que pesem os problemas até aqui mencionados, o indicador acumulado no ano apresentou 6% de incremento real na folha de pagamento em todos os locais pesquisados, mostrando que os resultados positivos alcançados de janeiro a junho acabaram amortecendo o desempenho negativo dos dois últimos trimestres do ano passado.

Os melhores desempenhos dos primeiros seis meses do ano, no que tange a folha de pagamento real, também ocorreram nos centros mais dinâmicos da economia brasileira, destaque a : São Paulo 7,0%, e Minas Gerais 9,0%, sendo que o desempenho positivo ficou por conta dos seguintes setores: Meios de transporte com 11,2%, produtos químicos 15,1%, e minerais não metálicos com 19,1%. Seguindo a mesma tendência em termos de produção, a massa salarial foi expandida nos seguintes setores da atividade econômica: meios de transportes, com aumento de 11,7%, máquinas e equipamentos 8,1% e produtos de metal com 13,0%. O lado negativo ficou por conta de segmentos ligados a indústria de bens de consumo leves: calçados e artigos de couro (-6,1%), papel e gráfica (-2,4%). Setores cujo peso não é tão grande no centro-sul do país, tendo em vista o baixo processo de acumulação de capital proveniente destes, quando comparados com o montante de capital advindo de segmentos de bens semiduráveis e duráveis.

A indústria brasileira no mês de dezembro de 2008 apresentou queda de (-12,4%), tendo sido este, o pior desempenho desde 1991, já extraído deste para fins de comparação com novembro os efeitos sazonais.

O desempenho apresentado no último mês do ano foi fruto de forte retração desta atividade quando da eclosão dos primeiros sinais da crise ainda no mercado americano. Para se ter idéia de sua gravidade, só o setor de material eletrônico e equipamento de comunicações teve queda de (-48,8%), seguido de perto pelo de veículos automotivos com queda de (-39,6%), borracha e material plástico (-20,1%), máquinas e equipamentos com (-19,21%), metalurgia básica (-18,2%), indústria extrativa (-11,2%) e outros produtos químicos (-9,0%), pode se atribuir estes resultados a redução de crédito verificado no período e também à queda na exportação de commodities.

Goiás, pelo fato de ainda se encontrar no desenvolvimento da primeira fase do processo de industrialização, dando ênfase em sua matriz industrial a produtos provenientes de bens de consumo leves, sentiu menos no período os efeitos da crise que ora assola a economia mundial.

Neste sentido livre de comparações sazonais, apresentou no mês de dezembro próximo passado uma variação positiva de 0,4% em relação a novembro. A atividade industrial goiana aumentou 1,1% no indicador mensal após ter recuado 1,4% em novembro. O destaque positivo ficou por conta de minerais não metálicos que cresceu 15,5%, metalurgia básica 7,4% e alimentos e bebidas 0,8%, tendo sobressaído a fabricação de cimento; ferronióbio e farinhas e pellets derivados de soja., as maiores quedas ocorreram no segmento de produtos químicos com (-8,34%) e extrativa mineral com (-0,5%), devido a queda na comercialização de adubos e fertilizantes, matéria prima importante para movimentar o principal setor no Estado, o do agronegócio.

Concluindo, a política industrial tem um grande peso na formação de riqueza do país, quando se encontra em alta os indicadores de emprego e renda, apresentam desempenhos satisfatórios. Quando cai como verificado em dezembro do ano passado, o efeito nos mesmos indicadores é o contrário. Mais uma vez chamo a atenção para a importância da manutenção dos incentivos e benefícios fiscais, se não fossem eles o resultado, da política industrial para efeitos de geração de renda e emprego na economia como um todo teria sido ainda pior.


Disponível em: www.dm.com.br/impresso/7771/opiniao/64314,producao_industrial

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A matemática da crise financeira internacional

A finalização do padrão dólar-ouro retirou o caráter representativo da moeda, a colocando como papel-moeda ou moeda fiduciária. O lastro deixa de ser o ponto de referência para sua aceitação, assume o seu lugar a força econômica do país hegemônico, no caso em questão, os Estados Unidos da América.

Se por um lado este processo de reengenharia financeira ocorrido no início da década de 1970 tornou mais flexível o modelo de captação de recursos, por outro, a alocação destes mesmos recursos, lançando mão de passivos e ou/obrigações, tornou as economias mais suscetíveis a estados de crise.

Na verdade, este movimento, associado aos avanços tecnológicos, acabou contribuindo para a transição do processo de globalização econômica para o de globalização financeira.

Em seguida veio o processo de desregulamentação dos mercados financeiros internacionais, a criação dos fundos de investimentos e de pensões, a criação dos mercados de capitais e a utilização cada vez mais crescente dos mecanismos de securitização e de hedge, como forma de proteger os investidores e acionistas nos mercados futuros.

A avalanche de crédito, principalmente no mercado imobiliário das grandes economias, permitiu a aquisição de mais de um ativo fixo por cidadão, chegando em alguns casos a não se fazer o cruzamento de informações, que, direta ou indiretamente, permite, mesmo que em um único corte temporal, conhecer as reais condições de pagamentos dos clientes deste e de outros produtos.

As facilidades oferecidas na época e a necessidade de garantir o afluxo de capital, principalmente nas economias do Terceiro Mundo, para assegurar novos investimentos, acabaram fazendo com que as políticas econômicas adotadas se tornassem combustíveis para o aumento da especulação financeira, prejudicando em muito a curva de desempenho da produção de riqueza nas economias capitalistas.

O momento vivenciado pela economia americana naquele período, fruto ainda do crescimento do capitalismo no pós-guerra, camuflou de certa forma os problemas advindos do processo crescente de financeirização dos mercados globais, que acabaram se aflorando nos primeiros oito anos do século 21.

Na década de 1980, as economias emergentes se viram mergulhadas em um processo de endividamento e com taxas crescentes de inflação. A situação de desequilíbrio fiscal, verificada na maioria das economias, favoreceu o aumento dos preços, haja vista que a emissão de moeda, por parte da autoridade monetária, para conter o déficit entre receitas e despesas públicas, acabava pressionando uma oferta de bens e/ou serviços escassa.

A tentativa, por parte dos governos centrais, de conter os picos inflacionários, principalmente nas economias emergentes, os levou em um segundo momento à prática de políticas monetárias restritivas. O resultado destas ações foi o aumento das taxas de juros e a retração da atividade econômica, favorecendo, em algumas economias, a queda dos preços e, em outras, uma aceleração deste processo, caso específico do Brasil, por adotar o sistema de correção monetária para cobrir possíveis decorrentes de taxas de inflação acima de dois ou mais dígitos.

Na economia brasileira, a pressão inflacionária ganhou novos contornos até a metade dos anos 1990, período em que foi adotado o Plano Real. Os governos que se seguiram elegeram como prioridade o equilíbrio fiscal, combinado com políticas monetárias restritivas, onde as taxas de juros se situam muito acima da média que se pratica na economia mundial.

Por um lado, o tipo de política monetária adotada contribui para o controle inflacionário; por outro, estimula a especulação financeira. Neste cenário, a economia veio se desenvolvendo até a eclosão da crise no mercado americano, fruto, também, de um processo de especulação financeira, tendo como carro-chefe a inadimplência no setor imobiliário.

O agravamento da situação nos últimos quatro meses colocou em xeque não só o sistema financeiro americano como também o mundial. Com isso, os problemas migraram para outros mercados, atingindo também os setores de produção. Os segmentos voltados às exportações têm sido os mais atingidos, principalmente em função da retração nas compras por parte dos países ricos.

A recessão chegou no mercado americano e no europeu, fato que derrubou a produção também na China, principal economia emergente. No Brasil, os reflexos negativos começaram pelo setor automotivo e de eletroeletrônicos no final do ano passado e atualmente já alcança todos os setores pela retração nas vendas, forçando a revisão de investimentos já programados.

Pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria trouxe dados preocupantes, principalmente em relação ao crédito. Para 68% dos empresários consultados, o crédito foi encarecido; outros 49% entendem que os financiamentos ficaram escassos e 21% dos empresários queixaram-se da redução dos prazos de financiamentos.

A escassez de crédito trouxe dificuldades de curto prazo às empresas, principalmente em relação ao capital de giro, fato que levou a CNI a requerer do governo a ampliação dos prazos para recolhimento do PIS/Pasep, da Cofins e do Imposto de Renda Retido na Fonte e da Contribuição Previdenciária, sugestão acatada em parte pelo governo, com a edição da Medida Provisória nº 447/08.

A redução da demanda foi percebida por 56,8%, dos empresários e 40,9%, dos entrevistados apontaram que o preço dos bens e serviços intermediários e dos equipamentos importados se elevou.

Os indicadores econômicos começam a dar sinais de que também estão sendo afetados pela crise. Relatório do Banco Central mostra que as reservas internacionais somam US$ 206,8 bilhões; as vendas líquidas foram de R$ 6,1 bilhões. Dentre as operações realizadas, uma chamou mais a atenção, a referente à remuneração das reservas que alcançou o montante de US$ 561,0 milhões. Os estoques de operações de venda de moeda estrangeira somaram US$ 8,3 bilhões, enquanto os empréstimos em moeda estrangeira foram de US$ 4,7 bilhões.

Neste quadro de incerteza, a dívida externa já chegou aos US$ 200,2 bilhões. A dívida de médio e longo prazo subiu US$ 1,0 bilhão, ficando assim distribuída: US$ 586,0 milhões a primeira e US$ 453,0 milhões a segunda. A matemática da dívida de curto prazo foi melhor trabalhada, tendo esta caído em US$ 7,5 bilhões, totalizando US$ 37,5 bilhões. A amortização líquida de empréstimos em moeda estrangeira e de financiamentos foi da ordem de US$ 3,6 bilhões.

O lado bom da história ficou por conta dos investimentos estrangeiros líquidos, que totalizaram US$ 45,1 bilhões, sendo 30,3% superiores ao verificado no ano de 2007.

Como nem tudo são flores, o lado ruim da história ficou por conta do aumento em 51%, em relação ao ano de 2007, das remessas totais líquidas de lucros e dividendos, que atingiram US$ 33,9 bilhões. No âmbito dos resultados fiscais, houve déficit primário de R$ 16,8 bilhões. No acumulado de janeiro a dezembro de 2008, o resultado foi positivo, ocorreu superávit de R$ 118,0 bilhões, ou 4,1% do PIB. Neste caso, a maior contribuição veio da redução em 0,48% do PIB, no déficit da Previdência Social. Ao descontar os juros, percebe-se que R$ 162,3 bilhões foram apropriados, o correspondente a 5,59% do PIB. No acumulado ocorreu déficit nominal de R$ 44,3 bilhões ou 1,5% do PIB.

A dívida mobiliária federal, menos a do Banco Central, ficou em R$ 1,3 bilhão. Sua estrutura de vencimento encontra-se assim distribuída: 23,9% ou R$ 302,0 bilhões, a ser paga ao longo de 2009; 22,1% ou R$ 279,0 bilhões, a ser paga em 2010; e os 54% restantes ou R$ 683,4 bilhões, a ser paga a partir de 2011.

A dívida líquida do setor público é de R$ 1,1 bilhão ou 36% do PIB. A dívida bruta (englobando governo federal, INSS, governos estaduais e municipais) alcançou 58,6% do PIB em 2008.

Concluindo, embora o governo tenha dito a princípio que o País detinha uma blindagem em relação à crise, o que se tem percebido na prática é o contrário, fazendo com que o próprio discurso do nosso chefe de Estado ganhe um novo tom, trocando a marola pela cautela, diante do cenário vivido por todos, países ricos e pobres.

Disponível em: www.dm.com.br/impresso/7761/opiniao/63311,a_matematica_da_crise_financeira_internacional